Pe. Honório

Monsenhor Honório Heinrich Bernard Nacke, nasceu na Alemanha e veio para Morungaba em 1949. Dirigiu nossa paróquia durante 17 anos, com muita dedicação.

A personalidade forte, inteligência notável e o carisma que cativava a todos marcaram não somente a trajetória da comunidade paroquial, mas também a vida dos que o conheceram. Sua presença e suas iniciativas têm significado determinante nos caminhos e no desenvolvimento de nossa cidade, ultrapassando em muito os limites de suas responsabilidades como pároco, englobando ações que atingiram aspectos sociais, antropológicos e históricos de Morungaba, direta e indiretamente. Em 16 de novembro p.p. completou-se 45 anos de seu falecimento. A nossa eterna saudade, reconhecimento e gratidão.

 

Filho de Henrique Nacke e Elisabeth Horst Nacke nasceu no dia 14 de Fevereiro de 1908 na cidade de Westenholz, diocese de Paderborn (Alemanha). Batizado no dia 16 de Fevereiro de 1908 aos dois dias de idade na Igreja de São José em Westenholz e crismado no dia 29 de setembro de 1918 aos 10 anos de idade na Igreja de São Cristóvão em Geseke. Honório Nacke conclui o Primeiro Grau aos 8 anos de idade em Geseke em Agosto de 1924 ingressou no Seminário Franciscano de Garnstock (Bélgica) com o intuito de ser missionário no Brasil, onde no Seminário Franciscano de Rio Negro (Paraná) continuou seus estudos humanísticos tendo-os concluído em fins de 1929. Na data de 21 de Janeiro de 1930, Honório Nacke recebeu o burel franciscano em Rodeio (Santa Catarina) e também o nome de Frei Honório, que conservou para o resto de sua vida. Durante o ano de 1930, cujo ano de noviciado, permaneceu em Rodeio iniciando-se na vida franciscana. Nos anos de 1931 e 1932 fez seus estudos de filosofia em Curitiba (Paraná). Em Petrópolis (Rio de Janeiro) passou os anos de 1933 a 1935. Fez ali seus estudos teológicos. Recebeu a ordem de Diaconato no dia 1° de Maio de 1935 e a Sagrada Ordenação Sacerdotal no dia 30 de novembro de 1935, ambas na Igreja Franciscana do Sagrado Coração de Jesus em Petrópolis das mãos do Revmo. Dom Alves de Niterói pois Petrópolis ainda nessa época pertencia a Diocese de Niterói. Suas atividades foram bem diversificadas em diversos aspectos.

De 1936 a 1939 foi coadjutor na paróquia de Santa Terezinha na cidade de Campos de Jordão - SP. De Janeiro de 1940 a 1941 foi vigário da Paróquia de Santa Rita - naquele tempo anexa à paróquia de Santo Antonio do Pari – SP. De 1941 a 1943 foi vigário também na paróquia de Vila Clementino (próximo ao Ibirapuera - SP) com residência no Convento de São Francisco, Largo de São Francisco (Centro de São Paulo). De 1943 a 1948 ainda continuando como vigário de Vila Clementino na mesma paróquia. Permaneceu, portanto, como vigário de Vila Clementino de 1941 até o ano de 1948. Ainda em 1948 volta por pouco tempo a Campos do Jordão e depois para Águas de São Pedro para restabelecimento da saúde já abalada. Em 10 de Setembro de 1948 incorporou-se ao Clero Diocesano. Monsenhor Honório interessou-se sempre muito por psicologia patológica, estudou também medicina e foi durante dois anos professor de ética profissional e psicologia. Proferiu nesses anos muitas conferências e cursos sobre esta matéria de sua especialidade. Em primeiro de outibro de 1949 o Revmo. Bispo de Bragança Paulista Dom José Mauricio da Rocha desligou a nossa paróquia da vizinha paróquia de Itatiba a qual estava anexada. Nesta data Padre Honório foi nomeado pároco de Morungaba, exatamente no dia seguinte, três de outubro de 1949 como Vigário Ecônomo. Foi o décimo segundo vigário da Paróquia Imaculada Conceição de Morungaba.

Ecônomo ou Capelão é um ministro religioso autorizado a prestar assistência e a realizar cultos em comunidades religiosas, conventos, colégios, universidades, hospitais, presídios, corporações militares e outras organizações. Ao longo da história, muitas cortes e famílias nobres tinham também o seu capelão.

Foi solenemente recebido pela população sob aplausos de todos os morungabenses. Durante sua permanência como padre realizou reformas na Igreja Matriz, construção da Sede Paroquial, do Cruzeiro, do hospital, etc. Tinha objetivos de melhorar consideravelmente a vida de todos os morungabenses, mas a situação precária da época deixava a desejar. Mas com sua persistência e benevolência e com a ajuda de todos conseguiu muita coisa, entre elas um hospital que ele dizia ser para todos, mas principalmente para que o irmão carente tivesse onde repousar seu corpo em ocasião de alguma enfermidade.

Lecionava em São Paulo na Associação Cáritas de propriedade de uma familia amiga e tudo o que ganhava, assim como doações de pessoas abastadas, foi montando o hospital. Muitas foram suas ações sempre com o objetivo de atender à todos indistintamente. Sempre lutou para trazer mais e mais pessoas para a igreja, a fim de professarem a fé católica. Era enérgico porém de um coração muito grande e generoso. Amava os menos privilegiados e os ajudava nos problemas do dia-a-dia. Tinha uma percepção aguçada ao ponto de notar as reais intenções das pessoas dentro da igreja, exigindo silêncio, reflexão e respeito durante as celebrações religiosas, principalmente na Semana Santa.

Com disciplina e religiosidade foi nomeado Monsenhor, mas seu sonho se concretizou no dia vinte de março de 1955, quando adaptou num prédio de número vinte e dois, na rua Rodrigues Leme o seu tão esperado hospital, que era pelo seu pequeno tamanho carinhosamente chamado de hospitalzinho. Para dirigir o mesmo e atender as pessoas, ele conseguiu junto ao Instituto das Irmãs Oblatas de Santa Úrsula, em Jundiaí, que algumas freiras aqui viessem e fixassem moradia no mesmo local. Além das atividades hospitalares elas também prestavam relevantes serviços junto às crianças, jovens e senhoras daqui como: catequese, curso de culinária, corte e costura, bordado, aulas de piano, teatro infantil, canto coral, etc.

Com o crescimento de Morungaba houve a necessidade de um hospital maior e mais bem equipado. Padre Honório não se deu por vencido iniciando uma campanha ferrenha com o intuito de construir o tal hospital. Conseguiu a doação de um terreno e lançou campanhas, sendo uma delas a do “tijolinho”, onde todas as crianças da catequese e todas outras que quisessem contribuir levassem um tijolo para o início da obra. É lógico que isso era insuficiente, mas com sua psicologia ele incutia em todos a necessidade e importância de suas doações.

A primeira dama do Estado de São Paulo na época Dona Iolanda Carvalho Pinto, em dez de agosto de 1960, enviou como doação trezenos e vinte sacos de cimento que o Monsenhor e seus assistentes resolveram de comum acordo emprestá-los a outros, mediante comprovante para reavê-los em ocasião precisa, uma vez que o cimento deteriorisa e endurece em virtude do não uso na data em que foi recebido. Muitos homens aqui de Morungaba doaram dias de serviço, transporte de materiais e eram tantos que torna-se enviável nomeá-los. Até um baile entitulado “Baile da Primavera” realizado em setembro de 1962, onde cinco jovens disputavam o título de Rainha da Primavera. Eram elas: Doralice Luiza Frare, Izabel Sibineli, Ivani de Godoy, Maria de Lourdes Frare e Dinah Yamachita. Seria eleita a que vendesse o maior número de votos. Além da arrecadação de votos houve também o montante da venda das mesas para o baile, consumo de bebidas e bilheteria. O evento atraiu muita gente principalmente familias de Morungaba, e o salão paroquial, local do evento, estava lotado. Todo o montante arrecadado neste baile foi revertido em compra de equipamentos para o hospital. A colônia japonesa na época presenteou o hospital recém inaugurado com a mobilia do refeitório. Foi sem dúvida a maior construção em Morungaba, não pela sua arquitetura, mas pelo envolvimento da população, desde as crianças até os idosos. Todos na época de uma maneira ou de outra colaboraram com essa tão importante construção. Com isso a construção do hospital teve início em quinze de abril de 1961, sendo que a pedra fundamental foi lançada em quinze de agosto de 1960. Dois anos depois, em outubro de 1962, o hospital foi por fim inaugurado.

Também Padre Honório tinha em mente a vontade construir um parque infantil para um lazer sadio das crianças em período fora das aulas escolares, sonho esse que infelizmente não foi concretizado devido a sua morte quase que repentina.

Foi um grande incentivador dos jovens da época para o estudo alegando a importancia de um diploma na vida das pessoas. – “É a maio herança que um pai pode deixar para seu filho”, dizia ele.

Naquele tempo não havia pastorais, e sim grupo de pessoas que formavam: a Liga de São José, a do Apostolado da Oração (Coração de Jesus) e as Filhas de Maria, grupos esses formados só de mulheres sendo que as Filhas de Maria eram solteiras e uniformizadas. Seu uniforme era vestido branco com uma faixa azul clara e fita na mesma cor da faixa. Usavam véu branco ao passo que as outras mulheres eram senhoras casadas, não tinham uniforme e usavam véu preto. A Liga de São José e o Apostolado usavam fitas amarelas e vermelhas respectivamente, como é de uso nos dias atuais. Nenhuma mulher solteira ou casada poderia comungar sem véu, assim como não era permitido o uso dentro da igreja de roupas curtas, cavadas e decotadas. Havia muito respeito pela casa de Deus.

Cada grupo preparava comemorações alusivas às datas como, por exemplo, as Filhas de Maria no mês de maio dedicado a Maria. Todas as noites havia reza do terço, ladainha de Nossa Senhora, canticos e no ultimo dia (31 de maio) havia a santa missa seguida da bênção do Santíssimo e a coroação de Nossa Senhora, encerrando essas atividades com muita pompa e alegria. Os homens formavam o Grupo dos Congregados Marianos. As crianças representavam a Cruzada Eucarística.

Monsenhor Honório gostava de festas e todas que fazia eram bem organizadas a exemplo da Festa de São Benedito que era esperada por todos os morungabenses, assim como, por pessoas da região.

REDAÇÃO SÂO BENEDITO

O natal era a comemoração mais bonita e mais alegre que acontecia dentro da Matriz. Meninas entre seis e dez anos de idade, vestidas de anjo, adentravam pelo corredor da igreja levando em suas mãos lanternas coloridas sanfonadas acesas com velas cantando ‘Noite Feliz’. Uma jovem vestida a carater numa encenação de Maria levava uma almofada com uma imagem do Menino Deus, sendo que a igreja neste momento permanecia no escuro. Ia até o Altar Mor e depositava o Menino na manjedoura ao lado, delicadamente preparada para este fim. Aí acendiam-se as luzes e o povo cantava e aplaudia o nascimento do Filho de Deus. Depois em fila ia um a um em adoração àquele que veio ao mundo em forma humana para nos salvar.

A primeira comunhão era outro motivo de alegria. As crianças recebiam aulas de catequese ministradas pelas freiras e pelo próprio Monsenhor Honório, todas as noites durante três anos. No final eram sabatinadas mediante provas oral e escrita. No domingo da Primeira Comunhão, meninos e meninas vestidos com muito gosto e capricho iam para a Santa Missa em jejum a fim de receber na Santa Eucaristia Jesus pela primeira vez. Após a celebração havia na sede paroquial um reforçado café matinal para todas as crianças, seus familiares e demais pessoas que participavam da cerimônia. Era servido café, leite, leite achocolatado, bolo, torta, lanche, etc., e não era apenas neste dia que as crianças comungavam e participavam da Santa Missa, pois Monsenhor Honório exigia o comparecimento de todos em todas as missas dominicais. E por incrível que pareça isso acontecia mesmo não sendo missa especial para crianças, mas a igreja era o reduto delas, pois era esse o seu desejo, a igreja sempre cheia de crianças.

Muitas outras coisas aconteceram nesses dezessete anos de permanência do Monsenhor Honório que infelizmente são inenarráveis, pois qualquer espaço tornar-se-ia pequeno para registrá-los.

Já na Semana Santa a atitude era inversa. Ele não permitia que católicos ligassem o rádio em suas casas, pois dizia que era semana de orações, de sacrifícios, de jejum e principalmente de silêncio e reflexão. Exigia a presença de todos nas comemorações alusivas a data. O ponto culminante era a procissão do Senhor Morto. Todos em fila indiana iam calados, pois ele dizia que era preciso ouvir os passos das pessoas naquela noite horrorosa. Só ouvia os acordes da Verônica e alternadamente o canto das Três Marias que de maneira emocionante tocavam os corações de todos com músicas lamuriosas onde descreviam o sofrimento de Jesus, da Via Crucis até o calvário e simultaneamente a agonia de sua mãe Maria, em levar o corpo inerte de seu filho para o sepulcro. O esquife com o corpo de Jesus era levado por quatro homens trajando uma túnica branca até os pés e um pano branco sobre a cabeça preso por uma coroa imitando espinhos. Ao lado iam meninos segurando as matracas que eram acionadas para que com seus toques a procissão parasse para ouvir o canto da Verônica, que exibia um grande lenço com a expressão sofrida do rosto de Cristo. Terminado o canto eles tocavam novamente as matracas para a procissão prosseguir.

No Domingo de Páscoa, de madrugada havia a Procissão da Ressurreição onde os sinos da Matriz soavam festivamente durante o tempo todo de sua trajetória. Ele gostava que todos rissem e conversassem durante a mesma, mostrando alegria pela ressurreição de Jesus. As missas eram cantadas com repiques de sinos, fogos e muita alegria. A tarde ele levava as crianças no local onde hoje é o convento das Servas da Caridade. Lá era um pasto limpo com moitas, cupins e pequenos arbustos, local ideal para esconder ovos de páscoa que as crianças corriam para achá-los. Para os pequeninos, ele reservava alguns ovos a fim de contentar à todos. Trazia essas guloseimas de São Paulo onde as conseguia em troca de aulas que lá ministrava. Era um ser humano de um coração imensurável.

Todos os paroquianos de Morungaba que tiveram o privilégio de viver nessa época e de conviver com o Monsenho Honório, com certeza guardam essas lembranças em sua mentes e seus corações.

O tempo passa, as coisas mudam, mas na religião principalmente, certos valores e preceitos devem ser preservados para que as novas gerações cresçam com mais respeito às coisas de Deus, percorrendo o caminho do bem e da verdade.

Colaboração: Vera Lúcia Consolim Vicente

Pe. Honório

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